Entre os dias 28 e 31 de julho do corrente ano, ocorreu na santa cidade de São Salvador, o I Seminário Para Preservação do Patrimônio Cultural compartilhado Brasil Nigéria, fruto de uma empenhada articulação das Casas de Candomblé de origem Yorùbá, mais antigas do Brasil. A Saber: Ile Aṣẹ Iyá Naso Ọká, Ile Aṣẹ Opo Afọnja, Ile Iya Omi Aṣẹ Iyamase, Ile Aṣẹ Mariolaje, Ile Oṣumare Araka Aṣẹ Ogodo – a Casa de Oṣumare e vossa alteza imperial, o Alaafin Ọyọ, Lamidi Olayiwola Adeyemi III.
Podemos afirmar com contundência, que o aludido seminário foi, sem dúvida alguma, um grande sucesso - um marco histórico e, nesse sentido, este crédito deve ser dado ao povo de santo da Bahia e comunidades de Terreiro, que viajaram de diversas partes do Brasil para esse encontro histórico. Foi de fato um dos grandes delineadores para esse resultado. Como foi bonito e emocionante ver comitivas e mais comitivas de diversos Estados da Federação, irmanadas com o objetivo sem-par de preservar não somente a nossa memória ancestral, mas igualmente, o legado que vamos deixar para as gerações vindouras. Assim, não podemos deixar de agradecer a todos que fizeram-se presentes nesse momento único, tornando-se também, peças edificadoras da nossa história futura. Registramos aqui, o nosso especial agradecimento a todos –OBRIGADO
Obviamente, esse foi mais um passo na longa trajetória que todo o nosso povo deverá trilhar para conquistarmos os direitos concernentes as religiões de matriz africana, que fazem parte da história do Brasil.
Na última sexta-feira, dia 01 de agosto, técnicos do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico e Nacional), reuniram-se com o Sr. Augustus Babajide Ajibọla – representante do Ministério da Cultura da Nigéria e com representantes das Casas Matriciais do Candomblé da Bahia, selando o compromisso em criar mecanismos de cooperação entre Brasil e Nigéria.
Os representantes do Governo da Nigéria e das Casas matriciais de origem Yorùbá, preconizaram a criação de um Instituto com o objetivo de promover a difusão de estudos aprofundados tangentes ao patrimônio cultural e religioso que é compartilhado entre os dois Países.
Os representantes do Governo da Nigéria reiteraram que o apoio do Brasil, cada vez mais, mostra-se fundamental para o sucesso da candidatura de Ọyọ ao título de patrimônio mundial pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), podendo ser estendida ao importante Festival de Ṣàngó, herança também perpetuada no Brasil. O tema também se consolidou em um compromisso.
Já como legado das discussões que emergiram nesse marco histórico que foi o I Seminário Para Preservação do Patrimônio Cultural Brasil Nigéria, será elaborado um documento – carta de intenções entre os dois Países, que será assinada por ambos os governos.
Acreditamos veementemente, que para a perpetuação de nossas tradições e, sobretudo, para conquistarmos definitivamente o respeito perante todos, devemos agir, atuar e mobilizarmo-nos como unidade participativa e agregadora. Devemos expandir de forma torrencial ações como o I Seminário Para Preservação do Patrimônio Cultural Brasil Nigéria. Devemos plantar, em cada membro das nossas Comunidades de Terreiro, a semente da possibilidade, a semente da perseverança, a semente da busca pelo direito da prática dos nossos costumes tradicionais e religiosos, de modo que cada uma dessas sementes germine, cresça e renda-nos futuramente, frutos salubres para a nossa Religião, com vistas que as gerações próximas, possam se beneficiar por todas essas iniciativas.
Para Pai Pecê - Babalòrìṣà da Casa de Òṣùmàrè, o sucesso do I Seminário Para Preservação do Patrimônio Cultural Brasil Nigéria, mostra que o sangue dos nossos antepassados, perdido no ardor das chibatas não foi esquecido.
"Fiquei muito emocionado com tudo o que aconteceu nos últimos dias. Todos nós, representantes dessa magnífica cultura e religião que é o nosso Candomblé, deve ter tido o mesmo sentimento. Além de recebermos em nossas casas, o Alaafin de Ọyọ e toda sua comitiva, fiquei especialmente emocionado em ver o nosso povo do Candomblé irmanado. Em diversos momentos pensei na luta dos nossos ancestrais, de minha avó, de minha mãe, daqueles que iniciaram toda essa jornada antes de nós e que graças a cada um deles, estamos aqui hoje, continuando o seu legado e buscando com perseverança preservar tudo o que nos foi deixado. Eu quero aproveitar essa oportunidade para agradecer. Agradecer todas as pessoas que se locomoveram para esse seminário, que foi o primeiro, mas que rogo ao meu Pai Òṣùmàrè que logo ocorram o segundo, terceiro e tantos outros. Quero também pedir para que toda essa mobilização continue com a mesma força, com a mesma determinação, com o mesmo empenho. Nós somos um povo forte. A cada dia, tenho a certeza que a dor que nossos antepassados passaram, não foi em vão, que cada gota de sangue perdida nas chibatadas não foi esquecida. Vamos continuar irmanados, visitando-nos, reunindo-nos e, juntos, louvando Oriṣa e mantendo essa história. E que o instituto sugerido seja criado o quanto antes, e que não seja apenas um mecanismo de preservação de nossa cultura e religião, mas seja também um instrumento norteador para os sacerdotes e sacerdotisas espalhados por todo País".
O Alaafin partiu para Ọyọ no dia 01 de agosto, emocionado em ver no Brasil, a fidedigna manutenção da cultura e religião que há séculos, saiu da sua terra, a África.