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Águas de Oxalá abre ciclo das festividades da Casa de Oxumarê

Domingo, 06 Janeiro 2013

Águas de Oxalá abre ciclo das festividades da Casa de Oxumarê

O Babalorixá aproveitou a oportunidade para fazer um apelo para a comunidade sobre os valores da religião e o respeito a vida

Tradicionalmente a Casa de Oxumarê inicia seu ciclo de cerimônias religiosas com as "Águas de Oxalá", e foi assim na madrugada dessa sexta-feira, dia 04, onde a comunidade do Terreiro, subiu as escadarias carregando suas quartinhas cheias de água para o Pai maior. Antes de começar a obrigação, Babá Pecê conversou com seus filhos, filhas, abiãs e amigos sobre a importância de fazer um resgate dos valores das religiões de matriz africana.

" Temos que aproveitar estes momentos também para mantermos um dialogo, afinal são nestas horas que encontramos maioria da comunidade presente. Eu acredito que esteja faltando conversa entre as comunidades e o sacerdotes, e tenho convicção que isto seja a receita para termos uma unidade de pensamento, resgatando a harmonia do candomblé, e assim como nossos ancestrais, unidos pela Fé e determinação, perpetuar o legado cultural e religioso que nos foi herdado e juntos lutarmos pelo direito de liberdade religiosa", explicou o sacerdote.

O ritual também serviu para que o sacerdote lembrasse a comunidade da resistência do povo de axé para a manutenção e preservação da sua religiosidade. "Gostaria de lembrar a todos que o candomblé em sua formação foi também um instrumento de resistência onde em seu seio reconstruiu a base familiar, milhares de pessoas escravizadas, nossos ancestrais, mesmo sendo de culturas e cidades distintas se uniram através da fé, e sobreviveram um dos piores massacres praticados contra a raça negra. Nos tempos atuais, ainda não foram cicatrizadas as feridas que nos foram deixadas, uma vez que, a chaga do preconceito e desrespeito contra as religiões de matriz africana continuam abertas, que a principio, enquanto os governantes não se posicionarem em defesa, o único remédio será a união, fé e nossa resistência".

O Babalorixá ainda fez questão de destacar a humildade das divindades e como, as pessoas podem aprender com eles. "Os Orixás estão acima de vaidade, eles são a natureza divinizada que por nós é cultuada para serem nossos guardiões. Uma vez, esta energia manifestada através da incorporação pode ser coberta de ouro e com as melhores vestes mas, seus pés sempre estarão descalços como mensagem de humildade e respeito a Terra. Mas não só, os orixás se curvam como reverência perante os que de verdade respeitam os valores da vida. O próprio ser divino se curva, isto com toda certeza é uma mensagem que mesmo diante de nossa mais alta posição devemos ser humildes e respeitar o próximo", completou.

Em seguida, o Sacerdote da Casa de Oxumarê fez referência aos Orixás que estão no comando do ano e como devemos aproveitar essas energias ao nosso favor. "Acredito que, o ano de 2013 será de grandes mudanças, pois sobre a regência de Ogum, Oxum, Yemanjá, Oxumarê e Oguiã está propício para lutarmos por nossos direitos. Deverá ser um ano que em todos os sentidos as ações deverão ser tomadas com cautela uma vez que, cada ato impensado pode ocasionar guerras. Com tudo, com a inteligência de Oxum, poderemos em todos os aspectos reverter as situações ao nosso favor e aproveitar a riquezas que nosso Pai Oxumarê promete neste novo ciclo que anuncia o ano de sua regência. Orixá Bobo abençõe a todos e que todos tenham um feliz ano novo", resumiu Baba Pecê.

Após o ritual, em homenagem ao senhor da paz, o ciclo das obrigações do mês de janeiro foi oficialmente aberto. No dia 21, com a festa em homenagem a Ogum da Casa, as festividades são encerradas e retomadas apenas em março, onde Yemanjá, Oxóssi e Ogum D'kisi são celebrados.

 - Umas das mais belas cerimônias, que retrata a saga do orixá no período em que injustamente foi preso em Oyó, cidade governada por Xangô, há milênios atrás. Como consequência da prisão de Oxalá , houve escassez de alimentos, as mulheres ficaram estéreis e as epidemias assolavam os animais e a população.

Passado sete anos de infelicidade o rei Xangô descobre através de uma consulta ao oráculo de Ifá que a catástrofe provinha da injusta prisão de um ancião. Imediatamente ordenou que o prisioneiro fosse apresentado , quando o viu, o rei e sua família ficaram desesperados pois reconheceram que estavam diante de Oxalá. Envergonhado Xangô lhe pediu perdão e ordenou que todos vestissem branco e fossem até a fonte buscar água para banhar Oxalá, sendo assim uma forma de se redimir com ele.

Assim, para a comunidade da Casa de Oxumarê, iniciar o ano carregando águas para Oxalá tem o intuito de redenção dos erros cometidos e como pilar da cerimônia aprender a reparar os danos causados aos outros, garantindo, então, um verdadeiro bem estar espiritual e por consequência material.