É o momento que o supremo sacerdote ou sacerdotisa consulta as divindades para obter orientação sobre como deverá conduzir o templo, as cerimônias e, principalmente identificar qual será o Orixá que vai reger o ano, com o intuito de prestar reverências e garantir que o axé, a força vital daquela divindade seja propagado para toda comunidade.
Seguindo a tradição, logo ao amanhecer, no dia 01 de janeiro de 2014, o Babalorixá Pecê foi consultar os búzios e não conseguiu conter sua alegria ao obter, de imediato, a resposta dos Orixás. "Xangô recebe o ano anunciando mudanças, justiça e reparação, e entrega 2014 ao governo de Oxumarê e Oyá, que conduzirão o ano prosperando os filhos de axé. Nos momentos de aflição recorram a Iansã, um Orixá que ao ouvir o grito de socorro de um filho, com a força de um búfalo e a rapidez dos ventos vem atender o pedido de súplica. Nosso Pai Oxumarê garantirá um ano de transformações, de movimento e de prosperidade. Arroboboi... Nosso patrono, nosso pai nos conduzira este ano!. O odu agbe meji, anuncia que com cautela e determinação, deixando de la nossos conflitos alcançaremos nossos objetivos", afirmou o Babalorixá.
As palavras de agradecimento do sacerdote eram ouvidas até mesmo por aqueles que estavam ao lado de fora do Peji (local sagrado onde ficam os assentamentos dos Orixás). Após ter concluído a consulta e ter recebido as orientações e determinações dos orixás, a alegria transparecia em seus olhos. "Senti que 2014, será um ano de muita coisa boa, de muito axé. Eu vi nos olhos de Babá, ele estava muito feliz", disse Ekedi Cida de Nana.
Assim, na primeira sexta-feira do ano, após os filhos da Casa de Oxumarê terem carregado Aguas para Oxalá - cumprindo a tradição centenária de iniciar o ano buscando se redimir e dos erros e injustiças cometidas através da cerimônia milenar ÀWÓN OMI ÒSÀLÁ - Baba Pecê deu as boas novas anunciando que o governo do ano 2014 estava nas mãos de Oxumarê e Oya, dividindo sua emoção com a comunidade.
ÀWÓN OMI ÒSÀLÁ
Umas das mais belas cerimônias, que retrata a saga do Oxalá no período em que injustamente foi preso em Oyó, cidade governada por seu Xangô, há milênios atrás. Como consequência da injustiça, houve escassez de alimentos, as mulheres ficaram estéreis e as epidemias assolavam os animais e a população.
Passados sete anos de infelicidade o rei Xangô descobre através de uma consulta ao oráculo de Ifá, que a catástrofe provinha da prisão de um ancião. Imediatamente ordenou que o prisioneiro fosse apresentado, quando o viu, o rei e sua família ficaram desesperados pois reconheceram que estavam diante de Oxalá. Envergonhado Xangô lhe pediu perdão e ordenou que todos vestissem branco e fossem até a fonte buscar água para banhar Oxalá como uma forma de se redimir com ele.
Assim, para a comunidade da Casa de Oxumarê, iniciar o ano carregando águas para Oxalá tem o intuito de redenção dos erros cometidos. A finalidade da cerimônia é aprender a reparar os danos causados aos outros, garantindo, então, um verdadeiro bem estar espiritual e por consequência material.