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Quinta, 28 Outubro 2021

Candomblé.

Candomblé.

O Candomblé é uma religião que foi criada no Brasil por meio da herança cultural, religiosa e filosófica trazida pelos africanos escravizados, sendo aqui reformulada para poder se adequar e se adaptar às novas condições ambientais. É a religião que tem como função primordial o culto às Divindades - Inquices, Orixás ou Voduns -, seres que são a força e o poder da natureza, sendo seus criadores e também seus administradores. Religião possuidora de muitos simbolismos e representações que ajudam a compreender o passado e também a discernir melhor as verdades e as mentiras, permitindo assim definir conceitos.
Este saber e este conhecimento são conquistados com a prática, no dia-a-dia, com o tempo, a humildade, o merecimento, a inteligência e, principalmente, com a vontade de aprender. Sem depender da mídia ou do poder monetário, o Candomblé vem se mantendo há séculos graças à força e à garra de nossos ancestrais, e também de seus adeptos. Mas, primordialmente, ao grande poder das suas Divindades. A palavra "Candomblé" parece ter se originado de um termo da nação Bantu, candombe, traduzido como "dança, batuque". Esta palavra se referia às festas, reuniões, festividades profanas e também divinas dos negros escravizados, nas senzalas, em seus momentos de folga.
Posteriormente, passou a denominar as liturgias das diásporas africanas.
Existem outras interpretações etimológicas, mas preferimos nos ater a esta.
Vamos fazer aqui uma observação a todos os iniciados e simpatizantes para explicarmos por que utilizaremos o termo religião para o Candomblé.
É necessário o entendimento e a compreensão de que o Candomblé não é uma "seita". A palavra seita define um grupo de dissidentes que se separou de uma religião em uma tentativa de criar outra religião. A seita caracteriza-se como uma facção minoritária das crenças predominantes e pela necessidade de mudar as doutrinas centrais da religião da qual se separou, assimilando simbolismos, liturgias, conceitos e dogmas de outras religiões variadas. Tentando, assim, conciliar, em um só segmento, várias doutrinas e diversos pensamentos.
Isto porém não ocorre com o Candomblé, pois ele é a transmutação de cultos religiosos africanos. O termo religião advém da idéia de re-atar e re-ligar o homem a seu Deus. No Candomblé não existe a adoção desta função, porque nunca nos separamos de nossos Deuses e de nossas Divindades! O sentido de religião, dentro do Candomblé, é o da "confraternização geral", ou seja, do homem com as Divindades e destas com ele, não tendo o ser humano medo de se relacionar com seus criadores.
Embora tenha sido necessária uma readaptação e reformulação para poder ter continuidade, a religião não perdeu o cerne de seus conceitos nos cultos e liturgias. Aparentemente, todas as nações que para cá foram trazidas adotaram também intervenções filosóficas e psicológicas dos índios que aqui viviam, os primeiros e verdadeiros "donos desta terra". Igualmente ao Candomblé, todas estas religiões que coexistem no Brasil também precisaram sofrer algumas modificações e influências para poderem aqui se instalar.
Como exemplo, podemos citar o catolicismo que precisou promover alterações em seus atos litúrgicos e em sua catequese. Os ensinamentos kardecistas, trazidos da Europa, inseriram e adotaram certos dogmas e pensamentos da religião católica, e muitas outras religiões fizeram mudanças para se inserir em uma nova terra.
Algumas crescendo e participando mais da vida dos habitantes do país do que as outras, porém seguindo o pensamento de Arnold Toy nbee: "Não existe criatura viva que saiba o suficiente para dizer com segurança que uma religião foi ou é maior que a outra!".
Os índios logo se identificaram com a nação bantu e a ela se uniram quando os participantes desta nação aqui chegaram para trabalhar como escravizados. Esta parceria era uma tentativa de ambos se resguardarem contra seus opressores e de protegerem seus interesses sociais e suas necessidades religiosas.
Nesta união, foram se mesclando, adquirindo e trocando costumes, crenças, conhecimentos sobre a natureza.
Foi a partir desta junção que surgiram os primórdios da Umbanda, que tem nos seus caboclos a figura dos nossos ancestrais indígenas, e nos pretos-velhos, a síntese dos nossos ancestres escravizados.
A Umbanda é então a religião que foi criada no Brasil, amalgamando saberes africanos e indígenas com o saber europeu, por meio do sincretismo com a religião católica.
Apesar da sua longínqua similaridade, o Candomblé não pode e não deve ser denominado uma "religião espírita", na visão positivista de Alan Kardec.
Explicamos: no espiritismo, o relacionamento e a comunicação somente podem ser realizados com os "espíritos", que são as almas daqueles que já se foram para um outro plano.
No Candomblé, porém, a nossa interação com o divino é feita através das diversas segmentações das Divindades.
O Candomblé, apesar das modificações, não sofreu mudanças muito profundas nem radicais em suas tradições, seus dogmas e, principalmente, nos fundamentos deixados pelos nossos mais velhos. Suas modificações foram mais pragmáticas, no sentido de ter que se fazer aceitar em uma nova sociedade, procurando ambientar-se tanto na parte humana quanto na parte religiosa.
Precisou adequar-se e buscar novos elementos a partir dos quais conseguisse reconstruir todo seu entremeado de relações litúrgicas.
A religião, no Brasil, se integrou, se adaptou e floresceu ainda mais, porque aqui encontrou uma natureza exuberante e uma grande diversidade de elementos necessários à sua existência.
O que queremos e precisamos, nos dias atuais, é que o Candomblé seja reconhecido unicamente como uma religião, sem que esteja inserido ou irmanado a nenhuma outra. Em nossa religião não existe, como nas demais, um simbolismo do bem ou do mal, do paraíso ou do inferno, e ela também não torna o homem ou a mulher seres escravizados por um Deus.
Possuímos regras, porém temos também possibilidades de suplantá-las, com a aquiescência e a aceitação de nossas Divindades. Estas mesmas Divindades possuem sentimentos paternais/maternais e características bem humanizadas, não estando em um plano inatingível ao homem.
Por termos a noção de que a nossa religião é uma ramificação e não uma cisão das religiões que se cultuam nas nações: iorubá, fon e bantu, ainda hoje atuais e perseverantes em suas tradições na África, permitimo-nos dizer que o Candomblé é talvez uma das religiões mais antigas da face da Terra. Desde os primórdios do mundo, o ser humano tinha por hábito agradecer à natureza por tudo que esta lhe proporcionava. E isto ocorria sempre através de cânticos, de danças e de oferendas sacrificiais. O homem agradecia pela chuva que dava vida à terra e que lhe proporcionava boa cultura e pasto para seus animais; pelo agasalho que cobria seu corpo; pelos alimentos e pela carne que conseguia para sustentar sua prole e por tudo o mais. Assim também é o Candomblé, em que tudo que conseguimos provém da natureza. E é a ela que reverenciamos e agradecemos todos os dias e a quem recorremos em nossas necessidades.
Em Cuba, a religião de culto aos Orixás denomina-se Santería, sendo porém muito arraigada ao sincretismo, fazendo a ligação de nossas Divindades aos santos católicos. Mesmo no Brasil, a religião afrobrasileira recebe outros nomes nas variadas regiões:
no Nordeste, por exemplo em Pernambuco e Alagoas, é denominada "Xangô"; no Rio Grande do Sul, chama-se "Batuque"; no Maranhão, "Tambor-de-Mina".
Na África não se conhece o culto chamado Candomblé, pois esta designação é somente brasileira; lá o que existe é o culto às Divindades, individualizado por regiões, cidades e até mesmo famílias. Naquele continente a religião dos Orixás, Voduns ou Inquices, em muitas cidades, faz parte integrante e importante da vida social das pessoas. No Brasil, os negros que para cá foram trazidos, sentindo a necessidade e procurando salvaguardar suas tradições, recriaram um ritual bem próximo ao que realizavam na terra-mãe. E, com certeza, conseguiram, pois o Candomblé pouco perdeu suas características fundamentais e tradicionais.
Atualmente, o Candomblé ainda sofre algumas reformulações, procurando se adaptar ao mundo atual, trazendo em seu bojo também algumas invencionices. Algumas autoridades da religião, e mesmo muitos iniciados, se perguntam: até que ponto devem continuar estas mudanças?
Até que ponto elas condizem com o passado e não vão extrapolar e criar modificações nos fundamentos trazidos pelos nossos ancestres?
Esta é uma pergunta que os adeptos não podem deixar sem resposta por muito tempo! Axé!

✓ Odé Kileuy & Vera de Oxaguiã.
"O Candomblé Bem Explicado
(Nações Bantu, Iorubá e Fon), págs. 29 a 32."

🎨 Carybé.