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O Candomblé e a Política, a Política e o Candomblé: duas linguagens inconciliáveis?

Domingo, 18 Dezembro 2011

O Candomblé e a Política, a Política e o Candomblé: duas linguagens inconciliáveis?

Na última sexta feira 16 de dezembro de 2011, o salão principal da Casa de Oxumarê se transformou em sala de aula. Além de templo sagrado destinado aos Orixás, esta Casa que é ciente do seu dever e sua responsabilidade para a preservação do legado religioso de matriz africana, cumpre o seu papel abrindo espaço destinado à articulação de idéias e de fomento do conhecimento. Não por outra razão, o Babalorixá Sivanilton Encarnação da Mata, Baba Pecê, acolheu a ideia proposta pelo professor Jaime Sodré com grande carinho e entusiasmo, abrindo as portas do Terreiro para que ali se iniciasse mais um projeto de fortalecimento da ação política dos Terreiros.

A noite foi coordenada pelo professor e Ogã Jaime Sodré e pela Egbon Sandra Bispo de Yemanjá. Ambos, na qualidade de coordenadores da mesa, apresentaram os objetivos do projeto "A Política e o Candomblé ou o Candomblé e a Política", bem como, apresentaram o convidado especial da noite, o ilustre professor e Vice Prefeito da cidade do Salvador, Edvaldo Brito.

Diante de um público tão caloroso, o velho mestre pediu a mesa para abandonar os formalismos que são peculiares aos Seminários, ele gostaria de falar com o seu povo e para seu povo. Desse modo, a sua intervenção deveria seguir a mesma estrutura das aulas que ministra na Universidade Federal da Bahia, ou seja, uma breve exposição do tema acompanhado de um debate onde os presentes teriam a palavra para formular questões e articular idéias.

A partir do trocadilho sugerido pelo título do projeto "A Política e o Candomblé ou o Candomblé e a Política", o professor iniciou a sua explanação buscando responder a essa provocação. O que vem primeiro, a Política ou o Candomblé, o Candomblé ou a Política? Seriam estes dois elementos inconciliáveis? Segundo o professor, refletir sobre essa provocação é a deixa para se compor uma massa crítica oriunda dos Terreiros para se lutar em prol dos direitos e garantias do povo de Santo.

A fim de desenvolver os aspectos que circundam essa provocação, o ilustre professor lançou três questões fundamentais para compor a sua tese, quais sejam: a) o Candomblé é Religião e assim deve ser tratada pela Sociedade Civil e pelo Estado, isso implica no respeito às garantias estatuídas na lei máxima do país, qual seja, a Constituição Federal; b) A Política é "uma técnica de gestão de interesse público" e, como tal, deve ser apropriada pelo povo de Santo para a defesa dos seus espaços territoriais, levando-se em conta que os Terreiros são espaços de interesse público nacional, não à toa, a existência de uma política pública nacional destinada aos Terreiros de Candomblé, mas que ainda não é efetivada na sua totalidade; c) A Política na sua dimensão artística, ainda que viceje práticas demagógicas, é também o espaço de atuação da liderança carismática, nesse sentido, os terreiros devem apostar em suas lideranças como possibilidade de ampliação e inclusão das agendas públicas dos Terreiros nos espaços de decisão política.

Partindo para o segundo bloco do encontro, o professor respondeu e escutou uma série de questionamentos e relatos oriundos do público presente. Dentre as tantas intervenções, uma pergunta lançada pelo professor Jaime Sodré parece ter provocado a síntese da exposição do professor. Ao questionar qual teria sido o erro político cometido pelo povo de Santo ao longo dos últimos 100 anos, o ilustre mestre em linhas gerais deixou claro que o nosso erro foi não ter apostado ainda todas as fichas em uma liderança política vinda do próprio Candomblé.

André Luis Nascimento dos Santos

Ogan da Casa de Oxumarê.